sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Sinto muito


As ruas continuam tomadas pelos manifestantes revoltados e parece que ainda teremos mais alguns dias de batalhas na cidade. Eu ainda não sei se foi uma boa ideia ter partido para a guerra. No início, a viagem serviu como uma fuga para os problemas que atingiam nossa família e alguns amigos próximos. Eu não gosto muito desse clima, mas resolvi partir com alguns amigos em busca de glória, ou apenas algum conforto para a alma.


Eu já havia perdido a noção dos dias da semana, pareciam todos iguais. Até que, naquele dia, nosso grupo foi atacado e tivemos que fugir às pressas. Acabamos nos perdendo no caminho e em poucas horas eu já corria no meio de uma multidão completamente estranha para mim.

Não significava nada para aquela massa de desconhecidos correndo. Apenas era um deles ao correr também na mesma direção. Sentei atrás de uma pedra e fui surpreendido por uma figura diferente que perguntou meu nome e de onde eu vinha. Apesar da desconfiança, eu não podia negar que ela já havia quebrado minhas portas de entrada.

Começou a me explicar um pouco sobre sua vida e como veio parar na guerra. Descobri que ela estava no mesmo abrigo que eu e não sei como não havia notado antes.Estávamos lutando do mesmo lado e, em tese, poderia confiar nela. Mas algo me dizia que não, porque ela era diferente.



Pessoas diferentes dizem coisas que incomodam e iniciam uma vontade de mudança em mim que não tem destino certo. Mas sempre doem quando começam a rasgar a sua pele. Lembro do último corte, bem profundo e que ainda tem uma cicatriz frágil. "Você é apaixonado por um conjunto de palavras?" Aquela pergunta enterrou em meu peito uma grossa camada de medo e algumas pedras de insegurança..

"Eu não vou rasgar a sua pele. Não preciso tirar nada de você, pois não há nada de tudo isso aí dentro. Você carrega esses medos, sim, eles são reais, porém são muito mais leves do que imagina. E a única pessoa que os mantém por perto é você mesmo. Apenas solte-e-se..."


Permita-me-e-se...

"Sentir que vai cair, segure-se-e-me..."

E-se cairmos?

"Cairemos juntos. E sem medo."

De se. Eu não posso continuar fingindo que se...

"Sente. É real."

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